O que houve de errado?
Por Juarez Sigwalt*
A pergunta “o que houve de errado?” é uma referência ao livro homônimo do autor britânico Travor Kletz, no qual ele relata desastres, como esses casos poderiam ter sido evitados e nos leva a refletir sobre porque acidentes similares tendem a se repetir. O peso da falha humana ainda é decisivo. Parece que o ser humano tende a esquecer as lições aprendidas.
Na indústria, temos a missão de garantir que a segurança seja inerente à cultura da empresa: a vida está em primeiro lugar e não existe resultado financeiro nem sustentabilidade sem resultado de segurança. Em 43 intensos anos de produção de aço, afirmo que esta não é uma tarefa simples, mas é possível e necessária. Os riscos sempre existirão. Fará a diferença quem extrair e praticar os aprendizados.
Decidi ser engenheiro metalurgista após uma visita à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (Rio de Janeiro), aos 16 anos. À época, o aço líquido transbordando na Aciaria, em uma planta ainda artesanal, despertou meu interesse de voltar ali como profissional. Estudei Engenharia Metalúrgica e, em 1978, entrei na CSN. Hoje, lidero a área operacional da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).
O que vi, ao longo desse tempo, foi uma imensa mudança tecnológica no setor, o que proporcionou uma verdadeira revolução na segurança. Usar equipamento EPI não era comum, muito menos obrigatório na siderurgia. Protegiam-se os olhos com as mãos. O nível de controle era muito baixo. Não havia muitos sensores, para além da experiência de quem sabia – a olho nu – medir a temperatura do aço e atestar a sua qualidade.
A produção de aço sempre foi e continuará sendo muito complexa, pois é uma indústria pesada que funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano, com milhares de pessoas envolvidas.
Todo acidente é evitável e temos que tratá-lo como falha, sob pena de retirar a responsabilidade sobre a atividade. Nosso mais árduo desafio é cuidar da complexidade humana, que mexe tanto no nosso comportamento, o que dificulta a previsibilidade. Tudo isso é para que tenhamos segurança o tempo todo no nosso trabalho.
(*) Juarez Sigwalt, superintendente de Produção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP)
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